Prismas da Lucidez
anoitece e luto
hoje e amanhã.
quem sabe até
um pouco mais
com o meu luto
do prisma meu
engessado
em única face
tola.
hoje são prismas
facetados e lúcidos
e a sua amplitude
é o meu olhar do hoje.
e incômoda é a luz
nesta cegueira que adoece
e que mata-nos aos poucos
a erguer o vazio quase feliz
de outros loucos.
e a girar estou
em volta dos prismas
do que eu desconheço.
do que não era eu.
do que eu não fui.
do que eu necessito
- ser -
sem ser consequência
- de -
ó confortável angústia!
seja momentânea, mas faça-me girar
ainda mais! ainda mais!
para que possa eu vomitar
o ópio que há tanto saboreei
e o engoli inteiro
sem nunca digeri-lo!
... cresci pseudo qualquer coisa útil
aos passantes
fragmentada-mente.
fecho os olhos meus então
e sinto medo e oro.
e choro o luto
daquela "uma"
insalubre e insana
que fomos nós.
miro-me ao espelho.
tomo um trago da verdade amarga
que nos rasga o véu
da alva e enganosa textura
- mentira -
... havemos de enterrar todos estes "mortos".
e ainda o prisma no olhar engessado meu e estúpido.
e girar... e girar... e girar...
até que alcance eu a lucidez numa valsa
no tom afinado da reconstrução do "eu"
e ainda apreciá-los todos...
e sentir paz.
Karla Mello
19 de Maio de 2016