Prismas da Lucidez

anoitece e luto

hoje e amanhã.

quem sabe até

um pouco mais

com o meu luto

do prisma meu

engessado

em única face

tola.

hoje são prismas

facetados e lúcidos

e a sua amplitude

é o meu olhar do hoje.

e incômoda é a luz

nesta cegueira que adoece

e que mata-nos aos poucos

a erguer o vazio quase feliz

de outros loucos.

e a girar estou

em volta dos prismas

do que eu desconheço.

do que não era eu.

do que eu não fui.

do que eu necessito

- ser -

sem ser consequência

- de -

ó confortável angústia!

seja momentânea, mas faça-me girar

ainda mais! ainda mais!

para que possa eu vomitar

o ópio que há tanto saboreei

e o engoli inteiro

sem nunca digeri-lo!

... cresci pseudo qualquer coisa útil

aos passantes

fragmentada-mente.

fecho os olhos meus então

e sinto medo e oro.

e choro o luto

daquela "uma"

insalubre e insana

que fomos nós.

miro-me ao espelho.

tomo um trago da verdade amarga

que nos rasga o véu

da alva e enganosa textura

- mentira -

... havemos de enterrar todos estes "mortos".

e ainda o prisma no olhar engessado meu e estúpido.

e girar... e girar... e girar...

até que alcance eu a lucidez numa valsa

no tom afinado da reconstrução do "eu"

e ainda apreciá-los todos...

e sentir paz.

Karla Mello

19 de Maio de 2016

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 03/11/2016
Reeditado em 05/11/2022
Código do texto: T5812232
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