Eternidade Finda
Dá-me o teu Amor
inteiro e desarrumado.
Não precisa um ponto e não importo-me
com as reticências.
A própria vida é reticente e nem sempre
posso eu completar as minhas frases.
Guardo-as para mim
Mas não fraciono Amores a entregar.
Entrego-os sempre inteiros
E gosto de sorrir e de sol.
De flores e também dos dias chuvosos.
Então, abraça-me...
Sê terno e amparo meu.
Dá-me o teu silêncio...
Esvaziemo-nos.
E dá-me a tua mão se a luz apaga.
E enxuga-me a alma quando sangra.
Faz-me compressas lentas
E beija-me o instante
Como se fosse o último beijo
do até nunca fomos.
E ralha com o relógio e emudece-o.
Este tolo que marca apenas poucos segundos
de vida nossa resfolegante.
Vil relógio das horas das paredes que aprisionam,
Haja que não sabe ele
que há eternidade nos segundos.
Dá-me, do teu Amor, um segundo.
Karla Mello
02 de Maio de 2016