romanesco anacrônico

ROMANESCO ANACRÔNICO

Uma apoteose cor-de-rosa de auspícios benévolos e sôfregos ressentimentos,

Um aspergimento prolongado que, embora modifique a consciência cria uma degeneração óptica da curvatura do cristalino...

Um íntimo mal-estar duradouro que se une a tétrica rigidez noturna...

Uma assimetria acústica, musical, consoante com os sentimentos que experimento agora.

Vem lentamente...

Um soar comovente surge e acaricia o meu desespero,

O sino da igreja velha da minha cidade,

O dobre compassado desse campanário antigo

Confunde a agreste natureza noturna com a vaga e agradável

Imprecisão ...

Da recordação...

Aquela torre da igreja emana a música mais pavorosa e instigante,

Sinto um encanto sublime

E prossigo exatamente com o timbre do sino,

Aurífero tesouro cujo dobre me leva ao passado,

Meu sentimentalismo pôs versos lindos para representar o infernal desespero de um monólogo como esse...

E o enlevo prolonga-se.

Dura o crepúsculo e prossegue...

A musicalidade da colisão metálica do sino da catedral, o sino a badalar, majestosa e vagarosamente...

Traceja novamente as boas reminiscências em um sorvedouro íntimo E prolongado e traz remorsos igualmente demorados ...

Repasso em locais remotos e repenso o propósito existencial

E um deleite gelado me aglutina.

E um sabor cerúleo e azedo transpassa o âmago!

Ah! Quantas vezes!

Quantas vezes estive aqui, cheio de cálidas esperanças,

Quantas vezes, subitamente incendiado por uma paixão ocasional, Perpassei esse local, a essa hora exata.

No instante do ocaso, eflúvios delicados sobre minha epiderme juvenil,  

Em um espaço semelhante, em um horário quase igual,

Tudo, idêntico no tempo e no espaço; o de outrora alegre e jovial,

E o de hoje melancólico e desprezível,

Tudo ocorrido debaixo da abóboda celeste,

Parece que ambos veem como pêndulos gêmeos o transcorrer deste momento sendo, entretanto invariavelmente tão distintos.

Sob a tutela desse enfado sonoro, em outras épocas,

Sonhei bem-aventuranças, busquei e fatalmente frustrei-me.

O encantamento adolescente que provisoriamente manteve meu sonho

Despedaçou-se em estilhaços inexpressíveis, em ínfimos vestígios que incapaz de juntá-los, resignei-me à frustração...

Lágrimas secam, sonhos desmoronam...

E minha insurgência malogrou...

Minha cidade docemente em festa contempla o fim do ano.

Mais um óbolo a ser pago na minha existência, inexoravelmente.

Sinto com isso um sussurro invisível da morte a espreitar o último amplexo

A cogitar sadicamente, com pedaços desproporcionais um último sortilégio,

Um último regozijo passageiro,

Conceder-me-ia outros, se assim lhe coubesse melhor meu aniquilamento.

Por enquanto basta esse transcorrer do calendário para que a ela conquiste mais um devaneio,

Aproxime-se calmamente da destruição...

Contemplo, entretanto, minha beleza onívora, fleumática, limítrofe da carne ofuscante e também efêmera.

Olho nos olhos dos céus irados, caídos adiante, frente a frente, no desespero do universo.

Sou tão lindo como uma reunião monocromática de venturas verdes e tenho amor...

Não obstante, as adversidades vindouras mantenho esperanças...

Meu gládio de perdedor arquejou meu corpanzil vagarosamente, de uma maneira triste desaprendi de sonhar.

Só me lembro daquelas máximas da brevidade das horas....

Dos dias belos ...

Ah!

Soa outra vez o sino!

Relembro os sinos dominicais e parecem haurir o esplendor da minha alma

A cada dobre soturno e alegre, vago e preciso, vai dilacerando recordações infantis,

Colegiais, eternas lembranças de paixão e enternecimento...

O sino de outrora que despertava o reino de encantamento da infância,

Com um despotismo deleitoso, instigava, acolhia ...

Dói-me e irrita-me como uma sirene vil, já que esse soar novo, desigual,

Sem nenhum riso amigo de companhia, ausência dos cálidos aromas feminis, movimenta a melancolia e esboça a decrepitude em proporções

bastante definidas.

Acabrunhado pelo remorso dos prazeres não vividos, pela insatisfação das conquistas incompletas, distante de devotamentos e refrigérios minuciosos, alheio à saciedade voluptuosa do entrelaçamento,

Da perfeição mais simples de um beijo!

Comigo, porém há apenas um lápis que vou tracejando firmemente estas letras doentes!

Oh! Carbono, meu irmão, somos iguais e restamos ambos sozinhos; enlanguescidos.

Tu, na acomodação e suavidade de teu arranjo atômico.

Questionando apenas a incoerência da minha ilusão, penalizado pelo meu fracasso e frustração,

Fazendo versos destes, que desaparecerão; embora repitam como um dobre doloroso as reminiscências mais pungentes.

E faço isso com teu corpo.

Ah! Quanto corpo de carbono feito para irar a vida alheia!

Calafrios epidérmicos que dão enjoo à nostalgia.

Memórias do idioma vulgar e inteligente da adolescência, daquelas tardes de contato íntimo,

Amoroso, sentimental;

Daqueles sonhos pueris de devotamento, obsessão por um corpo garboso, acetinado, cujo poder inebria...

Esse delírio que intumesce os lábios, inclina a alma inteira a espera de sangrar,

Jurando escrúpulos mútuos, infinitamente; sim, a cogitar a possibilidade do entrelaçamento, mas tudo casto...

Hão de rir de mim em breve, sob meu olhar.

Rir-se, sim, é bem capaz de valer para a posteridade apenas como um insigne covarde, introvertido de boa alma, ilustre fracassado Nada mais,

Só menos!

Sei, contudo, que vivi repleto de egrégios sentimentos.

Cri extraordinariamente na bondade redentora, na união platônica do ser...

Compus um destino benévolo, mas impossível,

Vislumbrei conquistas magníficas e irrompi o álamo da imperfeição.

Enchi meu âmago de tristeza a esperar a hora exata – o transbordamento - embalde!

Existirão aziagas franjas e pétalas opacas, perfumes distantes, cuja desagregação centrífuga dispersará a fragrância...

E um tufo delicado, feminil de cabelos suntuosos, brilhantes...

Tudo em turbilhões pictóricos, sonambúlicos, delirantes, vis até...

Para! Mesquinho! Coração de vilipêndio!

Dedico em parte, obviamente, meu escurecimento torpe a essa abóboda rutilante, que flui permanentemente a realçar vidas, a esse planeta circundante em perpétuo movimento,

Dando-nos sonhos inúteis e vidas breves, cujo palor torna-se aspiração melíflua...

Mas queria gostar de crer no que poderia ter acontecido...

Algures, talvez os ósculos inconclusivos estejam a vibrar ardentemente...

Vá lá, existam lugares onde nosso leito lânguido saboreie sofregamente os raios do sol.

E a lepidez evapore ao meio-dia a turgidez dos lençóis...!

Se tivesse sido outro, tudo seria outro.

Se dissesse sim em lugar de não ou não em lugar de sim,

Caso houvesse dito amor em lugar de amigo,

Tivesse ido, sob tempestades, a lutar por alguém ao invés de refletir com sensatez...

Haveria sido diferente e o universo todo, inconscientemente seria alterado.

Mas não disse amores, nem sofri por crê-lo, sofro inadvertidamente mais por não conhecê-lo.

Amiga minha, alma gratuita que espera meu encontro, ouço desde agora tua voz e as tuas juras de amor, nossas, recíprocas, verdadeiras.

Utopia, dirão alguns.

Exceto meus irmãos poetas...

Whitman, velho compreensível, jovem genial me chamaria, provavelmente.

Amo-te em segredo, Walt, pela tua onisciência e gimnosofismos...

Poe, tua Lenora lembra minha eleita,

Tua vida assemelha-se à minha, não obstante rejeite um desfecho parecido.

Byron, Dostoiévski, Flaubert fizeram-me.

Agradeço-vos enormemente, pois arrancaram a docilidade, a fraqueza e o enternecimento vulgar;

Restabeleceram-me a volúpia pela grandiosidade, que há desde a origem de todo homem,

Esquecida pelo romantismo...

Shelley, Rimbaud, Keats, Cruz e Sousa e Bruno de Menezes são meu interlúdio sacerdotal do amor,

Eclesiástico pela devoção aos clássicos mestres Baudelaire, Pessoa.

Prossigo meu monólogo, comme il faut, acertando eixos duvidosos e surpreendo-me com a monotonia do cansaço

E a incerteza que pulveriza os nervos

E refaz o dilema contundente do meu insólito passado.

Tive remorsos austeros, frívolas paixões que maltrataram o ser;

Tive, apesar dos nefastos argumentos desfavoráveis – um dia de luzes- produzi raras ideias,

Aquelas formas fúlgidas de criação, esplendores nefandos e paradoxalmente castos.

Regozijo-me em momentos ligeiros de satisfação interior; Resmungando apenas a incessante e irritante lástima da vulnerabilidade,

Da ausência,

Da solidão...

Da inconclusão.

A esse horário tênue do crepúsculo, ouço a lúbrica melodia do amor...

Ressoa como garra fatal, fulminante, fazendo fatias cálidas de desmoronamento,

Ruflando assaz vertiginosa a monstruosidade dos meus delírios;

A misturar perfumes a tesouros,

Auríferos presentes e devaneios rudes.

Sinto-me só, e à ausência do ser não basta: enriquecimentos, honra, galhardice; nosso mal interior egoísta é ao mesmo tempo comunitário e social.

A empáfia só é válida àquele que é prepotente enquanto a plateia avulta a grandiosidade dele.

Tive méritos elevados e a magnificência deu-me gloriosos venenos,

Meu maligno obstáculo foi sempre o controle incondicional, a racionalização veemente.

A surda gratidão , honraria cadavérica , inferior somente a bravura heroica, que também quis antigamente,

Em outros desvarios vulgares de Epicurismo e darwinismo.

O agradecimento que me refiro é o amplo antagonismo existente em pertencer a uma classe, sem dela participar , contabilizando malefícios contraditórios de um fuzilamento público em uma esfera mais dicotômica como a dos fantasiosos, dos poetas e dos andrajos

À qual me insiro perfeitamente.

Com uma placidez irrisória.

Se me entende, amigo, é porque sofreste com o desâmino inexplicável de ter tudo o que necessariamente era bom e apaziguador e por motivos torpes, difusos e agora visivelmente execráveis se recuar

Ao pleno domínio, ao gozo simples, onde encontraria paz e conforto.

Algumas coisas são postas neste mundo a fim serem pedras imóveis, suscetíveis apenas ao intemperismo vagaroso e insignificante.

Outras são flutuantes e breves como o pólen e as plumas das aves.

Árvore sou, dessas danificadas cujos galhos tortos flexionados ao chão

Movimentam pedregulhos,

Pouco valem os frutos indefesos, arriados, posto em um banquete aos insetos...

Sem jardineiro preocupado, sem cuidados e nada mais que chuva a afundar-lhe o caule na areia movediça, a forçar-lhe o volumoso telhado latifoliado.

Vegetal infértil...

Parasita da natureza, nas formas, nas folhas verdes, nos troncos grossos, nas raízes que consomem nutrientes, sem óbolo a pagar.

Umbelífera castigada com coloração de enterro...

Cenoura incomestível, mastigada em sessões de tortura, essa sou eu homem fanático pelo poder do lipídeo que produza contornos táteis em um corpanzil estulto e anônimo...

Almejei viver com sorrisos melodramáticos, sinceros ideais nutriam minha mente humana.

Aspirava a um futuro de elucidação plena, mas arde o inferno da racionalidade que em mim emana aromas estranhos,

Produz erupções cutâneas degeneradas- arrepios frementes- oscilações contráteis e túmidos beiços de mulher a adornar meus sonhos,

Fetichismos de selvageria intrínseca à debilidade do caráter.

Sorrimos, amiga, alcançamos um paraíso inatingível, exceto aos eleitos de coração tranquilo.

Ri-se de mim, não obstante as conquistas surpreendentes que almejo, excelsas proezas, satisfação invulgar, domínios elevados, virtudes transcendentes...

Tudo para retificar e resgatar as imperfeições de antes, por isso mesmo tive ímpetos de coragem, lágrimas secas para um pranto invisível...

Soluços e pancadas e gritos e insurgências e dores intransponíveis; tudo em um ciclone de emoções dispersas, catástrofes, elocubrações fantasmagóricas para reprimir o ápice do meu antigo enredo,

Da minha meta ultrapassada, do meu heroísmo danoso,

Nas minhas improfícuas imaginações de adolescente.

Relembro de uma noite o ocaso já transposto, em uma contemplação riquíssima, sentado sobre o universo das minhas idealizações interiores, repleto de esperanças.

A rua escura, transeuntes irrelevantes, acompanhado pelo suavíssimo aroma feminil, aspirando a juventude em parcelas febris,

Com aquele gênero helênico de beleza por companhia

Não é preciso grande retórica para dizer que o mundo era só de nós dois,

Aquele espetáculo durou pouco, todavia.

Mas fitei-lhe os olhos e vislumbrei a essência, a paixão, a entrega e o sincero envolvimento...

Estava tateando o pensamento egoísta do gozo, enquanto cingia a mim um corpo de mulher, ela...J...

Aquele amontoado de átomos de carbono, deliberadamente dispostos, saltando, estimulados, moléculas em um frenesi de colisões...

Elétrons repulsores nela, uma tensão entre os corpos em policromatismo, um festival de saltos quânticos.

Entre a placidez conveniente das contínuas reflexões que tinha emergia abruptamente o pusilânime desejo do contado extrínseco e por isso incompleto.

A lascívia concupiscente que domina a circulação

Das ideias juvenis.

E com isso rompeu o fluxo de meus antigos sentimentos eminentes.

Ah!

Bem sabeis que as crianças não têm limites...

Assim também direi daquele momento: desmedido e intrépido.

A aproximação que mantive delicadamente, pois possuía-lhe a Andrômeda da corpulência em minha mão direita enquanto a esquerda vislumbrava-lhe a maciez do rosto,

fazia nela desenhos impossíveis de contar ao que ela respondia enrubescendo a tez nívea.

Com a estimulação tátil cada vez mais fremente,

As mãos em posições aleatórias, em um fluxo concomitante de beleza e deslealdade.

Esse aspecto improvável da paixão, a outra face da concórdia e do enlevo voluptuoso da proximidade de seres amantes.

A fatalidade de sermos primatas e o sublime ser efêmero!

Mantemos a escravidão por aquilo que não é maior e excelso.

Este era aos dezesseis anos e não vá constranger meus idos e juvenis períodos, cuja álacre dimensão eufórica de irresponsabilidade inveja a mim próprio.

Excetuando esse breve evento de impudicícia minha infância fora presumivelmente casta e lúbrica, desleal e justa, um paradoxo a mais para a definição de homem comum.

Feminilidade indiferente e apegos vis,

notadamente torpes, vulgares.

Jamais alcançando a ledice transcendente, incapaz de sentir a reciprocidade humana, a sentimental blandícia delicada,

Vivenciar o transbordamento excessivo dos risos alheios,

dos enrubescimentos enternecidos, amplexos contínuos e simbióticos,

Sorver sadias emanações vaporosas, e...

Tudo estranhamente explícito de uma clareza incomum, embora distante do extrovertido desfecho amoroso, reinventava meu malogrado destino,

E espalhava o colorido silvestre, porém irreal, em desvarios poéticos...

Cantar-te o meu devotamento recôndito,

Desvendar as sutis imprecisões e mistérios que não disse,

Os tênues desencantos e as obscuridades que te invadem...

Ah! Outras épocas, amiga, em contentamentos antigos,

Em breves momentos de júbilos vãos e passageiros, porque não estavas comigo.

Distante agora são os tempos de fantásticas possibilidades juvenis,

Da resoluta face de paixão e arrebatamento...

O transcorrer inconsequente de destemidos gritos e vociferações bestiais...

Relembro, amiga, o que antigamente me fazia crer possível,

Que vagamente houve um período, querida, em outro tempo...

Em um tempo de esperanças pueris e decentes, onde cri ver teu peito crestando em meu entusiasmo ousado,

Em um tempo de idealizações sonhadoras, onde ousei almejar, querer tê-la...

Obcecado, amiga minha, desprendi meu âmago e aos anos o entreguei.

Em teu nome, voluntariamente, inclinei-me e compus...

Tracejei vultosos versos, letras garrafais em que dizia absurdos enamorados.

Jamais pus, no entanto, o teu belo e grandiloquente nome neles...

Escrevi, com efeito, uma obra opaca e inerte,

Odes, sonetos, linhas de versos de encantamento perfeitamente teus,

Ressalvei com sensatez a palavra produtora do efeito poético.

Sempre agi com ponderações e cobardia.

Sei de sobra que a minha tímida e introvertida loquacidade fora

Incapaz de romper o distanciamento que adormeceu meu intrépido amor,

Essa ausência da consolação e inexistente alento

Desonrou meu perjuro intrínseco e meu amor em fagulhas mínimas...

Não obstante restaurou a força e o pensamento...

Escrevo agora, amiga minha, descomunalmente, com a força

Redentora da paixão mais insensata, a fim de a polidez do meu enamorado sentimento transcenda e sublime a frustração anterior.

Amada minha, minha toda, que ventura em suspirar teu nome,

Mesclando-o ao ar da minha respiração,

Uníssonos...

Chamando em rimas doces e suaves em plenos regozijos apaixonados.

Se eu dissesse a esplêndida beleza que teus cabelos preenchem no universo!

O desejo ansioso de vê-los sobre o meu corpo e sentir a invasão oceânica

De lúbricos prolongamentos teus; mínimas e elétricas delicadezas femininas...

Só vejo inutilidades no tempo sem ti...

A sociedade inteira, em qualquer coercitividade, não me impedirá de proclamar a ingênua e telúrica devoção que mantenho em teu nome, alma gentil,

Dádiva esplendorosa que me faz vislumbrar fantasias, crer no abandono recíproco e na conciliação humana!

Se o púlpito estivesse diante de ti!

Daria meus pregões de amor e esperança em honra ao teu nome eleito!

Se o tempo, outrora fatigado e implacável emudeceu meu poema,

Sem, no entanto desfazer o conteúdo, obviamente porque amo-te,

Vivi bastante os sonhos em perseverante obsessão,

Em conflito com a realidade e o meu devotamento recôndito.

Jamais exaurido do meu transbordamento apaixonado, expectante pelo teu clamor recíproco, pela tua respiração sôfrega, o teu olhar melífluo...

Antevendo a gloriosa calma da doação e em júbilos pelo teu carinho

Prestes a existir...

Vês o quanto minha existência é tua?

Se te tocasse o sol novamente a tez láctea e a teu lado estivesse, em Um

Crepúsculo, extraordinariamente iluminado por raios plenos de fulgor e brilho,

Daria meus pregões de amor e esperança em honra ao teu nome eleito.

Teus cabelos negríssimos assim belos como as musas nipônicas, o teu caminhar esplêndido assemelha-se ao voo de uma ave magnífica!

O carmim que existe em teu lábio como adereço natural, o teu reflexo fulgente,

a senectude do teu semblante calmo

e encantador

aliado ao teu talhe elevado,

à tua beleza contagiante e serena.

Os desejos ocultos de tua alma convexa...

E toda a imensa rutilância do teu palor de estrela...

Outra vez o sino ressoa...

O sussurro sentimental do tempo demora mais...

E a dor passada de outrora

Fazendo doer, pungindo o profundo sulco do coração,

Vertigem de arrepios...

Arrependimentos e lágrimas,

Páginas inexpressivas e sucessivos erros,

Trêmulos afagos da vileza do passado

Suaves olores adoráveis de antes transformados em almíscar purulento.

Amores vãos e paixões perdidas na suprema iniquidade da existência:

A desilusão!

Olhar o calendário de algarismos inúteis,

Verter o sangue torpe da benevolência,

Ainda assim viver com o gene da intrepidez!

Os brancos cabelos que virão...

A lúcida certeza de beijar a morte,

Se nesse espaço, hoje distante, o irremediável passado for dilacerante

Lembrarei, todavia, da pequena fagulha de minha existência feliz!

Quando crianças éramos, contemplei bocas túmidas e dei ósculos longos,

Mas agora poderei ser o amor alheio de alguém?

Silêncio,

apenas a irrealidade, o arrependimento...

Vil no mais amplo significado desse léxico torpe.

Essa ode ao mais rútilo sentimento fracassou...

A augusta proeza arrefeceu em estilhaços...

E a alegria perpétua de uma alma excelsa tomba,

Desde o albor da vida sofro,

Aquele que julgava possuir o apogeu da felicidade por amar,

Vil, torpemente vil sonhar com a esperança,

‘’A felicidade de amar a chama alheia que também é sua’’,

Corrói-me a baba de Caim, mas é o meu prato predileto

Raiva de não ter roubado do meu eu do passado

Esses sonhos pueris e descartáveis...

A felicidade possível agora é a umidade de um corredor frio...

É o ermo destino de um romanesco anacrônico!

Ivo André Sousa
Enviado por Ivo André Sousa em 02/11/2016
Código do texto: T5811347
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