Era uma vez um pequeno ogrinho
Era uma vez um pequeno ogrinho,
Todos na vila o diziam "Que feio!"
Pobre ogrinho, vivia sozinho,
Todo rejeitado, triste, alheio.
E ele era mesmo muito feio,
Tinha as verrugas sobre escamas,
Quando comprou para si um espelho,
Este nem se quebrou: ficou em chamas!
Pequeno ogrinho tinha armagura,
Ele culpava a vida cruel,
Debaixo da ponte, longe da rua,
Sonhava sempre em ser rafael.
Mas, ó ogrinho, quando vai mudar?
Se vive sempre assim odiado,
Você vai morrer sem nunca amar!
Pensava nisso o abandonado.
Um dia chegou a fada abelha
E disse ao ogrinho "Você é lindo!",
Ele ficou com a face vermelha
E escondeu o seu rosto sorrindo.
Que fada é essa? Pensou quietinho,
Mas quietinho não estava o riso.
Tentou gritar um "Deixe-me sozinho!",
Porém sem querer soltou um sorriso.
Fada abelha, nem boba nem nada,
Ouvindo o risinho, foi para lá,
Ficou pertinho da face corada
Do ogrinho a se envergonhar.
"Fada abelha", soltou risadinhas,
"Você deve estar mesmo brincando,
Não percebeu as minhas verruguinhas
Nem minha pele verde descascando?"
Fada abelha fez não co'o pescoço
E foi embora voando pra longe.
"Hrm", murmurou só o feioso moço,
Enquanto encarava o horizonte.
No dia seguinte, na mesma hora,
A fada surgiu de novo e falou
"Lindo!" - mas ele, "Feia! Vá embora!"
Então ela se foi; ele chorou.
Não era para dizer que era feia!
Por que eu fiz isso? Sou idiota!
E se com isso eu fiz ofendê-la?
Ó deus dos ogros, mate-me agora!
Era preciso dar um jeito nisso,
Ogrinho não gostava de ferir.
Para desfazer esse rebuliço
Tinha de fazer a fada sorrir.
Desse jeitinho, sofrendo de dor,
O pequeno ogro foi ao jardim,
Apanhou de lá a mais bela flor,
"...para que ela desculpe a mim."
No dia seguinte deixou a rosa
Sem seus espinhos debaixo da ponte.
Venha, por favor, ó maravilhosa,
Surja novamente do horizonte.
Ficou escondido atrás do pilar,
Não queria ver a fada nervosa.
"Quando será que ela vai chegar?"
Indagava o da pele escamosa.
A lua caiu e a flor murchou,
Ogrinho no chão, sozinho, chorando,
Anoiteceu e ela não chegou,
Ogro é ogro, ogro não é santo.
Deixou sua flor morta no cantinho
E foi dormir com coração pesado,
"Eu nasci mesmo pra ficar sozinho,
Um ogro feio não será amado."
No dia seguinte, porém, a fada
Surgiu novamente do horizonte,
Estava como sempre animada,
"Você é lindo!", disse ao da ponte.
O ogro sentiu um frio na barriga,
Apontou o dedo para a flor murcha,
A fada sorriu, feliz e amiga,
Pegou a flor, indagou se era sua.
Ogrinho fez que sim com o pescoço,
Ela abraçou o caule sem espinhos,
A flor ficou colorida de novo
Então ogro e fada soltaram risos.
Era essa a vez do pequeno ogrinho
Que a fada abelha achava lindo.
Hoje, quando não se encontra sozinho,
Diz um "Que linda!" à fada, sorrindo.
30/10/2016