DUPLA FACE
DUPLA FACE
por Juliana S. Valis
Ergue-se o tempo sob dupla face:
De um lado, a vida sonhada,
De outro, a vida real,
E a mente vaga nesse mesmo impasse,
Comparando o que esperávamos ser
Ao que, de fato, se concretizou no final...
Talvez se, na vida, não esperássemos tanto
Dos outros, de nós mesmos, do mundo,
Não haveria, talvez, raiva ou espanto
Das imperfeições que nos atingem no fundo...
Pois se conseguíssemos sempre ir, cedo ou tarde,
Além dos limites dos ideais e da mente,
Talvez o passado, o futuro, a vaidade
Desaparecessem bem aqui no presente...
E, assim, não teríamos essa estranha saudade
Do que poderíamos ter sido, e não fomos,
Nessa ilusão que faz do tempo um alarde,
A sensação que falta "algo" ao que somos...
Mas na, relativa verdade, talvez não falte nada,
Se, na mente, o tempo tem essa dupla face,
Entre passado e futuro, a vida é sonhada,
No presente, a vida não requer disfarce,
Ela escorre, múltipla, ao limiar da estrada,
Na incerteza, apenas, com ou sem impasse,
Quando a alma canta e o coração nos brada,
Na dimensão humana que o mistério abrace.
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