Noturno...

Destilar a alma mirando o mar

E sonhos inanimados atirando

O farol humanitário a iluminar

A fenda n’água mergulhando

Minhas mãos colhem estrelas

Respiro o ar gentil da maresia

Rabisco e provoco mil centelhas

Na areia o rastro de vasta poesia

Há na tessitura dos meus versos

O estalido de uma papoula sangrar

Na ordem dos pensamentos inversos

Que fazem meu peito tanto decantar

O fragor das ondas em seus espasmos

Com suas brancas cristas espumantes

Ribomba quebrando todos os marasmos

Fazendo-me acordar como nunca d’antes

A lua rastreia meus passos desandados

Com mesmo olhar das mães protetoras

O ritual da noite de inúmeros namorados

Provoca a fuga das sombras desertoras

A brisa traz em seu colo recém-agasalhado

Doce inspiração que me provoca e me invade

Faz rebuliço no meu pensamento atordoado

Eis que abalroa contra as paredes da saudade

E ao quebrar da barra que reveste a manhã

Recosto-me a um tronco maciço e ramificado

De um espadaúdo e formoso pé de flamboaiã

A contemplar glorioso dia bastante ensolarado

Ouço os pássaros silvestres dobrando o canto

Ruídos de bichinhos que à noite pernoitaram

No imenso parque do meu fascinante recanto

Enquanto águas do mar solenemente recuaram

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 28/10/2016
Código do texto: T5806092
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