Noturno...
Destilar a alma mirando o mar
E sonhos inanimados atirando
O farol humanitário a iluminar
A fenda n’água mergulhando
Minhas mãos colhem estrelas
Respiro o ar gentil da maresia
Rabisco e provoco mil centelhas
Na areia o rastro de vasta poesia
Há na tessitura dos meus versos
O estalido de uma papoula sangrar
Na ordem dos pensamentos inversos
Que fazem meu peito tanto decantar
O fragor das ondas em seus espasmos
Com suas brancas cristas espumantes
Ribomba quebrando todos os marasmos
Fazendo-me acordar como nunca d’antes
A lua rastreia meus passos desandados
Com mesmo olhar das mães protetoras
O ritual da noite de inúmeros namorados
Provoca a fuga das sombras desertoras
A brisa traz em seu colo recém-agasalhado
Doce inspiração que me provoca e me invade
Faz rebuliço no meu pensamento atordoado
Eis que abalroa contra as paredes da saudade
E ao quebrar da barra que reveste a manhã
Recosto-me a um tronco maciço e ramificado
De um espadaúdo e formoso pé de flamboaiã
A contemplar glorioso dia bastante ensolarado
Ouço os pássaros silvestres dobrando o canto
Ruídos de bichinhos que à noite pernoitaram
No imenso parque do meu fascinante recanto
Enquanto águas do mar solenemente recuaram