Eu
Eu sou, tudo que sou
do brilho das estrelas
ao cheiro de terra molhada
passeando nos campos
morrendo nos mares
cidadão moribundo
esperança dos becos
Isso é o que sou
Sou a nota perdida
numa partitura
sou do dia
negra criatura
sou o tempo gasto
sou o templo casto
sou também a loucura
que vagueia o vazio
por momentos de ternura
camarada solidão
Sou o canto engaiolado
o latir acorrentado
sou o corpo acorrentado
assassinado
o dia violado
sou tudo isso
e mais um pouco
E de tudo que me acusam
o que mais me anima
é a certeza de ser
um vagabundo
buscando a paz
nos poemas
que derramo
sob os olhos!
1987(8)