O amanhecer
O amanhecer
É de manhã e a vida começa lá fora....
Olho pela janela e a manhã vai chegando, cinzenta!
A manhã, bem manhãzinha, pode ser cinzenta.
Imagino que na "Central do Brasil"
Os primeiros passos se acomodam nas calçadas.
As moscam buscam alimentos espalhados pelo lixo nas ruas.
As prostitutas indo embora, exaustas.
Os bêbados dormem o sono dos desesperados
E os insones sonham acordados.
Os muito doentes pedem, inconscientes, a morte!
É de manhã e a vida começa lá fora...
Pelas portas das casas noturnas ainda escapa
A fumaça tragada pela garganta da noite.
Os porteiros noturnos esboçam bocejos.
Imagino coisas que não vejo
Como se estivesse vendo, agora.
Estrelas se escondem, ofuscadas
Pelo viso da manhã.
No brejo, dentro d'água
Solitária rã, procura companheiro.
Nas alcovas, os amantes
Em orgasmos alucinados.
E os ratos descendo nos bueiros.
Nos andaimes, subindo, os pedreiros.
É de manhã e a vida começa lá fora...
Os porteiros noturnos indo embora
E os diurnos vão chegando.
As domésticas, cansadas, levantando.
O gato-preto, no telhado, sente o cio
De uma gata-malhada, que está bem mais distante.
Há um abismo entre os telhados
Que impede esse encontro.
As nuvens, em desenhos ritmados
São as donas desse céu que se levanta.
A manhã vai chegando tão cinzenta
Que o olho da noite se espanta
E destronada, a soberana vai embora
Dando lugar, a um céu azul que se levanta.
É de manhã e a vida começa lá fora...
Tony Bahi@