A SAGA DO "VELHO CHICO"
A SAGA DO VELHO CHICO
O beato Conselheiro
Já dizia há tantos anos
O sertão vai virar mar...
O profeta benzedeiro
Nem imaginava os planos
Que iriam arquitetar...
Em Alagoas, Sergipe
O mar vai tomando o rio,
Evacuando as cidades...
Quem diria que um Ripe
Num insano desvario
Estivesse com a verdade...
Gaiolas, carrancas, lendas,
O misticismo ancestral,
Era o Chico navegável
Viagens de boas vendas
Circulava o capital
O que hoje é impensável...
Quinhentos e quatro anos
Velho Chico promovendo
A Unidade Nacional
Não só em vendas e planos,
Os sonhos foram crescendo,
Junto do bem e do mal...
Grande Américo Vespucci
Cartógrafo Italiano
São Francisco o batizou
Dizendo ao povo, não lute,
Guarde o rio sempre sano
E a viagem continuou...
Com nau de Gonçalo Coelho
Na bendita expedição
Lá na foz do Velho Chico
Missa e reza de joelho
O rio que une a Nação
No dia de São Francisco
Depois, Teodoro Sampaio
O Chico imortalizou
Com todo o mapeamento...
Longas viagens, ensaios
Seu curso inteiro estudou
Desde a foz ao nascimento...
Os grandes bancos de areia
Que se formaram em seu leito
Fruto do assoreamento,
É um coração sem veia
Arqueja dentro do peito
Morre sem bombeamento...
Chega a tal Transposição
Com a desatada sangria
Insana e irresponsável...
Sem Revitalização
Levantou-se a Bahia
Chegando ao imponderável...
A cizânia entre irmãos
Sertanejos, nordestinos
Nunca deve prosperar...
São interesses pagãos
Gerados nos intestinos
Que não vão se consumar...
Da Barra, o Frei Luis Cappio
Com onze dias de fome
Em greve contra o projeto
Levando a imagem e o esculápio
Quase sua vida consome
Pra parar o plano infecto...
A ordem agora é fazer
Grande reflorestamento,
Dragagem, essa é a voz
Do povo que pensa em ver
Seu rio desde o nascimento
Pujante até sua foz...
Nota Explicativa:
O Rio São Francisco foi batizado pelo cartógrafo e navegador Américo Vespucci e pelo navegador Gonçalo Coelho, com o nome do santo do dia 4 de outubro, São Francisco de Assis, em 1501, em sua foz no Estado de Alagoas.
O Velho Chico, como é carinhosamente tratado pelos nordestinos, nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, atravessa todo o sertão da Bahia, parte de Pernambuco, Sergipe e Alagoas, onde tem sua foz (encontro com o mar).
Há alguns anos, vários governos trabalham a hipótese da Transposição das suas águas para atender parte do sertão dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, podendo também beneficiar o Piauí.
O projeto é polêmico, os impactos ambientais não se encontram devidamente equacionados ou esclarecidos e teme-se que a sangria das suas águas sem a execução de um grande projeto de revitalização, faça o rio secar, trazendo enormes prejuízos para todo o Nordeste, uma vez que as hidroelétricas nordestinas localizam-se na Bahia e na divisa com Pernambuco. Além de outros impactos econômicos negativos para as comunidades ribeirinhas, nos seus mais de 3 mil Kms. de extensão.