o julgamento

Pelas escadarias do Tesouro escorrem moedas do fogo

de um sacrifício oferecido aos demônios sem origem,

assim como o automóvel e o caminhão celebram a vida

no templo das estradas

a cavalgada mecânica e postiça do comércio

liquida os loucos atos de viver

assinando sentenças de morte

pela numerofasia da eletrônica contábil.

A injustiça tornou-se um princípio

como declarar o sonho republicano

onde monarcas apenas assistem

a carne alheia reinar

o excesso e o consumo?

Batizemos a República

com o Nome do Sonho

impossível ouvir

falsificações no sangue

marcas d'água nos acordes

A cobra gigante porta a coroa

adolescentes mendigos de olhos

cultuam o sibilar gelado

da palavra impronunciável

a morte enfrentada

no desfiladeiro das dimensões

pelo unicórnio-garanhão

e pelo Anjo de Olho Uno

conhece a degola

na lâmina das pétalas adocicadas

das ondas de Rádio

onde Lembranças fornicam

nas águas bordadas

dos buzinaços

nas portas espectrais dos desmanches

onde a velocidade e a Digitação

vagões abandonados na Estrada dos Peixes

A sirene do meio dia atravessa a cidade

convocando borboletas

para a assembléia o julgamento

onde decidido o que fazer da Carne

assumiremos nosso lugar

no trem e no cavalo

e Perpetuado o Crime

secarmos até os ossos brilharem

no verão das almas sedentas

na estrada que o velho índio trilha

buscando sentido na cólera

através do silêncio domado.