dois relógios

estar dentro

do furação disfarçado

de monotonia, às oito

da noite quando

o horário de verão

descola a noite para

dia, descola o tempo

de sua roda para caber

em outra roda feita

de palavras, mas... quantas

rodas rodam

no instante dessa

passagem? quando

o medo alopra a quem

nele se distrai? jorro

de memória, casco

insano que já não

detém a imensidão,

que entra por entre

os poros, pelas membranas

da pele, pela goela,

que nos esgueira e

nos engole em todos

os pontos

dessa vastidão que

se insinua no agora,

oito horas da noite, quando

milhares de famílias

sentam-se em suas valas,

e convivem com uma

vida documentada,

um mundo pavoroso

que movimenta e pulsa

pelos ares, oito horas

da noite, quando nalgum

outro ponto, pessoas,

reis, se acham , outros,

massa de derrotados,

independente da sua classe

todas tem um coração que faz

do corpo um rio que vem

e que vai, que joga fora o

que não presta e alimenta

os outros dias, que hão de

serem belos, como essa tarde

que ainda está presente, oito

da noite, quando o relógio do

homem se impôs ao relógio

de Deus por um tempo de menos

gasto.

Andrade de Campos
Enviado por Andrade de Campos em 24/10/2016
Reeditado em 24/10/2016
Código do texto: T5801866
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