dois relógios
estar dentro
do furação disfarçado
de monotonia, às oito
da noite quando
o horário de verão
descola a noite para
dia, descola o tempo
de sua roda para caber
em outra roda feita
de palavras, mas... quantas
rodas rodam
no instante dessa
passagem? quando
o medo alopra a quem
nele se distrai? jorro
de memória, casco
insano que já não
detém a imensidão,
que entra por entre
os poros, pelas membranas
da pele, pela goela,
que nos esgueira e
nos engole em todos
os pontos
dessa vastidão que
se insinua no agora,
oito horas da noite, quando
milhares de famílias
sentam-se em suas valas,
e convivem com uma
vida documentada,
um mundo pavoroso
que movimenta e pulsa
pelos ares, oito horas
da noite, quando nalgum
outro ponto, pessoas,
reis, se acham , outros,
massa de derrotados,
independente da sua classe
todas tem um coração que faz
do corpo um rio que vem
e que vai, que joga fora o
que não presta e alimenta
os outros dias, que hão de
serem belos, como essa tarde
que ainda está presente, oito
da noite, quando o relógio do
homem se impôs ao relógio
de Deus por um tempo de menos
gasto.