Caminhos de maçã
“Tienes líneas de luna, caminos de manzana”.
PABLO NERUDA
A noite rasga a cidade, a volúpia se levanta.
Para cantar (amor?), errados e belos,
Corpos desabrocham. Desde seios,
Suores nascem, encantam.
Pequenos pedaços de sonhos,
Aqui e ali, que fazem feliz
A quem concede encontros.
Puro desejo, oculto no sorrir.
Primavera batendo à porta,
Raparigas à janela, à sombra,
Em flor, pisando folhas mortas
Do outono que passou.
Paraíso posto, às pressas,
Cá no mundo.
Cobrindo de versos
Corações vagabundos.
Estas noites não esperam manhãs,
Só fazem deslizar docemente
Por longos caminhos de maçã.
No vagar dos homens,
Ébrios esta noite,
Não há nada a censurar.
Eles vão ao léu,
Pó no rosto, pé na estrada.
Vida ao vivo, bar em bar.
Nesta terra, onde doutos não podem reinar,
Pois terra de loucos, motivo de festa:
Reino dos céus em cores de mar.