Guarani

A beira do rio/

Te vi, ali destemida/

Vestida de indígena/

A inundar as águas límpidas/

Desprovida de pudor/

Inocentemente atrevida/

Desnudastes os teus seios/

Tocastes minhas mãos com anseio/

Me acasalastes dentro de ti/

Me envolvia como a um convite do beijo na boca/

Mas a inercia do medo me inibia/

Incessante a tua fome agressiva/

Me ferias a carne com as unhas soltas/

Porque muito me querias/

E quando eu entendi que a tua alma/

Me conduzia a vida/

Avancei contra ti/

Como um guerreiro/

Vencido pela lascívia/

Da tua pele serena/

Pela entrega do teu corpo/

Morena/

Me satisfiz ao ouvir/

Teu grito gemer o prazer/

Solto no ar/

Como a chuva a respingar nas folhas daquela tarde/

Renascendo do calor do dia/

Me fizestes aceitar um amor, que não entendia/

Pactuando da sintonia/

Conheci o outro rumo do destino/

Que me ofereceu o que não conhecia/

Vaidades indigestas/

Manchados de pecados/

O mundo veio a ruir/

Você no limiar da loucura/

Obcecava – se pela ternura/

Eu sem saber o que queria/

Num silêncio arguto ouvia perdido, o pulsar do peito/

Procurado resposta no leito/

Que resultou na ferida sem cura/

Entre a paixão e a insanidade/

Que vaga na veia sombria do teu interior/

A comer da vida essa dor/

Como uma masoquista/

A fazer da mulher que me amou/

Um exilio/

E do que sobrou desse homem/

Uma ilha/

Ainda não escrito o mapa/