O SANHAÇO VERDE
Toda manhã aparecia vistoso no coqueiro,
para despertar o dia, saltitando contente.
Admirado da janela de vidro transparente,
emitia sonora melodia, gorjeava brejeiro.
Afeiçoou-me a esse diário ritual matinal,
venturosamente, com tamanha ternura,
fosse dia santo, feriado, carnaval, natal,
fazia-me a mais agraciada das criaturas.
Mas, felicidade plena é pequena, fugaz.
Certo dia, por um infortúnio do destino,
chocou-se durante um voo em desatino,
contra a janela criada, intrusa e ineficaz.
Prostrado pela ilusória criação humana,
espalhou-se grande tristeza na campina,
porquanto aquela vida frágil, pequenina,
fenecia ante a casa majestosa e insana.
Na natureza ou perante todas as gentes,
a vaidade traduz desenganos frequentes.
Voltando à janela de vidro transparente,
só encontrei silêncio, silêncio somente...