Cenário II

Contas que tenho de fazer,

Lágrimas a derramar: um deserto.

O poder dos loucos,

Anjos insanos, desvairados, poetas.

Fecho a porta, derramo o vinho sobre a mesa posta.

Meu sangue derramado pela humanidade, humano demais.

Contas a pagar.

Dívidas com Deus.

Retratos na parede da sala,

Rostos que desconheço, ameaçadores.

Vidas cheias, dores astrais.

Desperto.

Vejo-me: universo.

Caligrafia trêmula, sombria.

Uma sinfonia: a quinta de Mahler.

Um filme: Visconti, Thomas Mann, Aschenbach.

A morte, a paixão: sentimentos.

A música, arte-mor.

Sobrevivo efêmero, desgastado e belo.

Escrevo: que me resta?