O acaso que não existe
Luciana Carrero
Nada existe, nem eu nem você
Caminho por todos os solos
Mesmo sabendo que não há chãos possíveis
Tudo é chiste, insanidade divina
De um deus que nada é e pensa sê-lo
Que reivindica para si a criação
Do nada que para nós absurdamente existe
E ando a perguntar-me por que sou tola assim?
A ponto de comprar um computador
Para escrever poemas mais rapidamente
Antes que sumam da minha vã inexistência
Poemas que ninguém lê,
Porque não há alguém para ler.
E dá-me um ímpeto de xingar o deus inútil
Que criou a minha fatídica inutilidade
Pai nosso que estás no céu, onde é teu céu?
Que não serviria para nada mesmo que a vida
Fosse útil, mesmo que algo fosse provado
Sem nenhuma dúvida e com certeza óbvia
Quem faz a obra, assina em baixo
Então, onde você assinou? num vulcão
Cercado de lava incandescente pra ninguém chegar
E ver teu nome e desnudar teu sagrado inexistente
Para provar o nada? E digam todas as bestas
De todos os apocalipses da tua bíblia, sobre o medo,
Que ele não existe. Que o medo é só não estar estando
E que todos os pânicos, na verdade são teus,
Apesar de não seres nada, como não sou também!