Das Incertezas do Amanhã
Sento-me nesta cadeira a observar o mundo,
o mundo que não me fala e não me ouve;
é surdo e mudo.
Cego talvez seria, mas ele me fita,
e ao fitar-me joga sobre mim todo o
peso das responsabilidades que não carreguei.
Como se soubesse do fardo de cada escolha
malfadada e de cada decisão precipitada.
Eu não o culpo, não, não o culpo.
Como dito foi, certa vez,
a responsabilidade das expectativas
que você cria é sua, e somente sua.
Erros jogados ao vento retornam na
primeira corrente de ar a atingir-lhe a face.
Como a saliva lançada ao céu, que
revolve na cara e adentra nos olhos.
A ardência corrói as córneas, e vaza para
a alma como óleo de motor respingando
no asfalto quente; deixa uma marca
que alvejante nenhum poderia remover.
Pessoas são como flocos de neve a despencar
de uma nevasca de inverno; cada padrão
é único e inconfundível. O mesmo material
que nos forma cria resultados variados.
E cada resultado é fruto de uma rede
de combinações possíveis e impossíveis,
porque é assim que nos concebemos;
um universo de possibilidades num
globo de improbabilidades.
Erros e acertos, vitórias e derrotas;
tudo parte essencial de uma vida
nem tão essencial. O que munda no
mundo se meu sorriso não brilhar
no sol da manhã que amanhã se inicia?
A incógnita que nos move a cada dia.