UM DIA DE CADA VEZ
(Socrates Di Lima)
Ah! Que no lusco fusco amanheci,
Tem-se a manha um ar sombrio,
As nuvens que agora vi,
São presságios de um dia, quase frio.
Mais quando o dia se levanta,
A aurora se dissipa,
O galo já não mais canta,
E o Sol se antecipa.
E assim, lá se vai o lusco fusco,
Mas no peito entrou uma saudade,
Nas entranhas lamuriosas que ofusco,
A brisa chega e me acaricia com vontade.
Vontade de fazer-me lembrar de mim...
Do meu Eu esquecido no passado,
Das lembranças que nunca tem fim,
Graças a Deus que tenho esse fado.
Ai que no meu arredio arrebol,
Maneja o meu momento crepuscular,
do nascer ao por do Sol,
Sinto que jamais cessarei de amar.
E quando o dia se agiganta,
No olhar que ao longe vejo,
Algum pássaro que num galho canta,
Anunciando que realizarei o meu desejo.
E que venha um novo amor,
De qualquer canto do universo,
Toma-me em furor e sem pudor,
Na virilidade do meu verso.
Então rogo a Deus a minha prece,
Agradeço por ter amanhecido...
e que so morrerei quando chegar meu fim,
sem perder os amores que o meu passado agradece,
assim, no hoje, sinto não estar mais esquecido.
....dentro de mim!
Ah! que passe o dia embevecido,
Da bebida da saudade que trago,
Desde o amanhecer talvez,
Como a vida num doce afago,
Vivendo um dia de cada vez.
Lusco-fusco
s.m.A hora crepuscular, o anoitecer, o momento de transição entre o dia e a noite (da tarde ou da alba).
[Brasil: Rio de Janeiro] Mulato, pardo.
Ao lusco-fusco, à hora crepuscular.