Vida Desregrada
É fato, como o fogo fátuo
desprendido das fagulhas e
inserto em memórias,
habitando um córtex,
ou talvez as cartilagens dum
coração remendado com pedaços de papel.
É fato, como dados sobre a mesa.
Cartas lançadas no baralho
do destino,
ou um tarô de beira de esquina,
cuja as mãos velhas
da cigana impregnam de fumo
as faces dos Arcanjos.
É fato, dado, tirado, lançado:
feito, refeito, desfeito, rarefeito?
Chegamos com nada, e saímos sem tudo,
como se por instinto divino,
em concepções grandiosas das coisas como não são,
certezas fossem criadas.
Fatos.
É fato, mas os fatos não existem.
Nada é eterno, nem mesmo a morte.
Mas qual morte? A da luz, a do homem
a da individualidade... ?
Tudo é passageiro, como o tempo que vai
e não volta.
É fato? Certeza?
Não, não mais. É apenas vida
em forma bruta e diamantada.
Sem fatos, e repleta de probabilidades.
Nada é tão certo a ponto de ser imutável,
a não ser o destino;
o destino, sim, esse é inexorável.