Como em 2020

Como podemos ser ainda tão inocentes/

Pois os homens que se apresentam salvadores de um sistema/

Não visitam nossos bairros/

Não visitam as escolas/

Não vão as praças/

Não vão aos mercados/

Não andam nas periferias/

Nem nos postos de saúde/

Não respiram o mesmo ar do povo/

Onde eles residem não há resido da miséria/

Onde trabalham esses homens/

Que são homens, mas a gente não os vê/

Mas a casa de trabalho tem água da melhor qualidade/

Tem ar condicionado/

Tem um ambiente arejado/

Normalmente eles andam bem alinhados/

Perfumados e em carros novos peliculados/

Seus filhos não estudam em escolas particulares/

Nunca foram amigos dos nossos filhos/

A gente não os toca/

Mal fala/

Os ouve a distância/

A gente não sabe de seus projetos/

Não sente os seus muitos benefícios/

Dos quais eles sempre falam da boca/

Todos os dias ao acordar/

A nossa vida parece ser a mesma/

Mas as deles muda da noite pro dia/

Se eram pobres se tornam ricos/

Se eram ricos se tornam mais ricos/

E nós, na maioria das vezes só ficamos mais pobres/

As portas se fecham/

Perde-se o emprego/

Perde-se a casa/

Passamos fome/

Enchemo-nos de vícios/

Adoece-se, quando não se morre/

A cada dia, se vê nossos filhos voltando da escola/

Pois não há aula/ não há merenda/

Quando não foram espancados/

Quando não foram roubados/

Quando não foram mortos/

E assim seguimos/

Pra próxima eleição/

Se estar na hora de algo fazer/

Não posso dizer/

Pois cabe a cada um de nós/

Essa iniciativa/

Vale lembrar que o que queremos para os que ainda vão nascer/

Pois assim como as ondas a vida passa/

Mas nós não podemos nos excluir do que somos parte/