MADRUGADAS



Ah, as madrugadas...
Perfumes antigos de carícias antigas roubam-nos o sono...
O ar falta porque a angústia sufoca...
Porque a solidão perturba o sossego,
Nutre a loucura,
Cristaliza a tristeza...
O pensamento voa sem rumo (e sem lógica).

Que somos nessas madrugadas sós?
Em que o silêncio é mais silêncio,
Nunca acorda?

Ah, as madrugadas...
Os sonhos se lançam às ruas
Qual tropel de cavalos alados, em vigília...
Correm, criam magia, ilusão,
Libertam os desejos,
Céleres, desembestados!
Sonhos confusos mas esperançosos
De que vinguem ao nascer do dia,
Aspiram a nascer flores no jardim.


Ah, meu inventário de lembranças...
Que escrevo nessas madrugadas,
Densas e esquizofrênicas,
Fosforescentes de neblina,
Mas belas! Voluptuosamente belas.
Deito-me no ventre delas...






Interação do amigo Carlos R. Stopa com esse poema:

"Desguiagem, ou reflexão ao modo dos geômetras: na mesma madrugada, vigem silêncios e silêncios, alguns nada lúbricos, vazios de qualquer esperança, porém, profundamente existenciais — a coisa corre assim: ... mas, sabe-se, há séculos, que ficar em silêncio é que é falar com a morte, ou, com os seus habitantes, os mortos... acabo de reconcluir tal coisa. Em 16 de julho de 2007, sob o alto céu de Minas, um bêbado me contou que, em madrugada sem lua, foi ao cemitério e procurou o mais imponente dos túmulos para que pudesse se deitar um pouco... queria falar com pessoa ali enterrada, e para isto, nem gastaria palavras, só silêncios — a madrugada não seria perturbada! Contudo, o vigia do cemitério, um morto-vivo entre os vivos-mortos, talvez por não suportar tanta lucidez, pôs o bêbado portão afora. Pode?! Nem duvide: pôde... Na vida, tudo é desguiagem, viragem de vento, ou apenas curva de rio?! " (CRS)


              foto: Rui Paes

KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 25/07/2007
Reeditado em 25/07/2010
Código do texto: T578494
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