ESPECTRO DA MORTE, ENFADO DA VIDA

Escondemos a morte com tanta habilidade que quase daria para acreditar que somos a primeira geração de imortais.

Caitlin Doughty

Os ventos da noite eterna

Levam o pó daquilo que em luz foi humano

Ao início da não-existência concreta.

No espectro do dia

A vida líquida

Corre rumo ao mar da morte.

As horas falidas

Atuam sobre as células

Provocando apoptose.

Idílico fúnebre

Enrijecem as fibras, as linhas

No silêncio do rigor mortis.

A morte certifica

Toda a humanidade esquecida

Para o derradeiro olvidamento.

Sepulto o cadáver

Ri a vida, enfim, livre do fardo

De um, entre tantos parasitas dos teus seios.

Chora a morte

O peso de um novo morto

A envergar-lhe as costas, sem escapatória.