A nova Lolita também é russa
Eu gosto desse tipo de arte
Qual é a parte que você não entendeu?
A crítica social
Ou as matizes vibrantes
A piada digital
Alusões infantes
Imagens surrealistas
Mulher reprimida
O olhar congelado e ingênuo
As poses salazes
O exotismo das tatuagens
Ou o unicórnio isquêmico?
O choque insólito
Das luzes de neon
Nas páginas do portfólio
Causam esse frisson!
A menina é adulta.
Querubins e demônios
Disputam sem fim
Quem é o mais virtuoso
Homens buscam apenas o gozo
E adormecem atônitos
No seio de Vênus.
Pandemônio dos momentos
O que é comercial nós vendemos
E não precisamos de aquiescência.
A caricatura do angelical
De Vladimir a referência
Capturada em imagem real
É exibida em poucos sorrisos
Expressão libertina
Os tingidos cabelos lisos
A seminudez cerebrina
Habita os recônditos da moda
Eis nosso disparate!
Nonsense
A falta de padrões está em voga
Você não pense, destarte,
Que só o corpo é arte
Mas, me diga,
Qual foi a parte você não entendeu?
Gosto desse tipo de arte implícita.
Se lhe desperta a volúpia,
Essas fotografias dúbias
Fustigam o juízo seu?
Os ombros (esguios) esquálidos
Transpiram sob o polaroid ácidos
Espectro azul-marinho
A arma não é de verdade
Ao desalinho cai bem o alarde
Apesar das vozes plúrimas
Não pertencem aos reis
Todas as túnicas
Não se convencem os sábios
Pelo mero poder das leis.
O negrume dos lábios
O esmero do vestido
A timidez da virgem
O jaez que lhe impingem...
Meio confuso? Não duvido.
Você compreende a arte?
Que perpassa a carótida
No átrio do estandarte
A beleza é dogma.
* Uma homenagem à modelo russa Ellen Sheidlin e à arte da fotografia.