Estava Falando do Black

Black morreu, era vinte e um de setembro. Era um animal forte, valente, seu tamanho dava medo, sua cor preta profunda, sua boca enorme, possuidor de muita força. Era um cachorro feliz, corria, pulava. Quando ficava em pé, parecia que tinha dois metros. Dócil como um bebe com as pessoas de casa. Quando minha irmã era viva, ela deitava em uma rede no terraço e ele se deitava do lado. Algumas vezes cheguei a observar que silenciosamente ele suspendia sua enorme pata e a pousava com delicadeza no braço dela, como se concordasse com os seus pensamentos. Quando ela não lhe dava atenção absorvida, ele repetia a ação varias vezes. E várias vezes ela lhe empurrava a pata que mesmo pousada com delicadeza pesava.

Quando ele passou a morar comigo, acredito que sofreu, pois eu não conversava quase nada. Dava comida. Dava Banho. Bom dia, boa tarde, boa noite. Apenas olhava para ele.

Ele era o resultado de uma doberman cruzada com um fila brasileiro. Sua mãe se chamava Bala. A Bala era uma cadela que pertencia ao meu filho e viveu muitos anos em uma chácara. Um dia vi a Bala parindo seus filhotes. E alguns dos filhotes precisaram de ajuda para sair, pois ficavam pressos, metade dentro e metade fora. Eu me aproximei, vendo a agonia dela e conversando enrolei dois panos nas mãos e fui manobrando a saída dos filhotes. Uma posição muito difícil ela estava dentro de uma casinha de madeira de criança próxima a uma arvore. Entrei na casa. Quando terminamos ela me olhava de um jeito inexplicável. Parecia que tínhamos parido juntas. Assim nasceu Black. Minha irmã escolheu o que queria. Hoje ele morreu silencioso

Teresa Cristina Monteiro
Enviado por Teresa Cristina Monteiro em 05/10/2016
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