Liberdade: um precipício

“Meu passo esmaga ruas e verstas.

Que fazer, com o inferno no peito?

Que Hoffmann celestial

Te pôde inventar, maldita!”

VLADIMIR MAIAKÓVSKI

Não preciso olhar teus olhos

Pra entender que a noite será longa,

Que o frio chegará e que teremos chuva hoje.

Pensava em te encontrar

Pela cidade,

Por acaso.

Seria feliz.

Dançaríamos como deuses,

Como homens além-do-homem.

Eu te perderia e te veria

Outras tantas vezes; e

Outra vez diria o que

Sempre ouviste: mais e mais

Morrerias.

Neruda nos falava

Na canção desesperada

Da dura y fría hora que

La noche sujeta a todo horario.

La hora de partir é, agora, nossa.

Pra onde vamos,

O vento nunca dirá.

É só a liberdade: um precipício.

Se possível, quero estar só.

E farei ao tempo uma oração:

Ai de nós! Amarga onipotência,

Inexorável duração.

E como falhar em nossa vida?

Se nunca pensamos na humanidade,

Ela não existe.

Cuspimos em toda a filosofia,

Pusemos uma pedra sobre a moral

E olhamos a arte de cima.

E agora? Que nos resta?

O amor é uma idéia velha,

Eu sei. Mas como queria

Ouvir o contrário!

Como no cinema, viveríamos

Uma aventura, uma noite,

Um eclipse e, quem sabe, os

Sorrisos de uma noite de amor.

Mas o tempo chega

E cada segundo é uma morte,

Uma punhalada que espera

Em cada movimento dos ponteiros.

E posso te ver, ainda uma vez,

Sorrindo para o nada

Com o olhar de quem ainda

Não sabe que pode enxergar.