QUEIMADO

Fogo no cerrado

Lambe o seco mato.

O crepitar do fogo

É a derradeira canção de ninar

E a fumaça serpenteante

Diáfano lençol sufocante.

Queima o fogo

A juriti, o tatu,

O tamanduá, a pombinha,

As flores rasteiras,

Árvores inteiras,

Os insetos, o cupinzeiro.

Vai o fogo lambendo tudo

Com suas línguas calcinantes

Deixando para trás seu tapete

De cinzas retorcidas e frias,

De coloração apática e de morte.

Queimado, o cerrado espera águas de salvação.