SE NÃO TIVER MORRIDO, NÃO COMPENSOU O ATRASO

Oito horas da manhã,

Trânsito parado, dentro

Do ônibus um estardalhaço.

“Meu chefe não entendi,

vai fala que eu dormi tarde,

tava na farra, afinal, todo proleta é safado.”

Mulheres xingando, telefones tocando.

O fluxo metálico em lentidão infernal,

O asfalto coagulado de encapsuladas vidas inúteis.

“É acidente na certa, e feio.”

Dez, buzina, vinte, buzina, trinta, quarenta, buzina.

Longos minutos de atraso, pressa, e um proleta grita:

“Se não tiver morrido, não compensou o atraso.”

E não é que o ferido, por sorte, estava vivo, a tragédia

Fora um fiasco, não compensou mesmo o atraso.

29/09/2016.