SONHOS DE MEDUSA SIMIESCA

A velha de rosto simiesco

Salpicada de resquícios da alva

Fumava ao sol inicial

Os sonhos de Medusa

Numa égide de palha e fumo.

A fumaça expelida

Pela boca desdentada

Ia transformando em pedra

Os pulmões da velha

E tudo ao derredor terminal.

As cinzas formavam

Poças douradas de icor sem cura.

O céu inalterável de a sua boca

Vincada e apertada refletia o brilho

Da guimba em brasa viva e enigmática.

Quando, enfim, terminou

O sol, o derredor, o pito.

A velha tornou-se bela pedra,

Uma abstração concreta do cotidiano.