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COMO OS REFUGIADOS
 

 
De rolinhas um casal,
noites sim e noites não,
dorme lá no meu quintal,
faz pernoite num cordão.
 
Para ser eu verdadeiro,
agasalha-se num fio,
sem querer o abacateiro,
o casal com muito brio.
 
E, num combogó do muro,
o par d’aves fez um ninho;
talvez prepare o futuro,
para às crias dar carinho.
 
Outrora uma só rolinha,
à quina dum compensado,
lá me aportava sozinha,
como um ser abandonado.
 
Aquela avezinha eu via,
solitária, sempre calma,
e aquilo me comovia,
e me punha festa n’alma.
 
Ora, aquele passarinho,
era hóspede bem-vindo,
além de um novo vizinho
– bom era tê-lo sorrindo.
 
Inconstante, todavia,
a solitária não vinha,
mas eu ia, todo dia,
ver o leito da rolinha.
 
Ah, os pássaros urbanos,
sem um teto, sem guarida!
À noite lhes faltam panos
e ao sol lhes falta a comida.
 
Hoje tento alimentá-los,
dando-lhes painço, alpiste,
mas esses todos regalos
ainda me deixam triste.
 
Quisera livre, soltinho,
um passaredo sem grade;
gaiolas negam carinho
e às aves só liberdade!
 
Nossas aves citadinas
são míseros deportados;
sentem falta das campinas,
cá, nos grandes povoados.
 
Pobres entes emigrantes,
tangidos lá do seu meio,
famintos, seres errantes,
uns refugiados -- creio.

 
Fort., 30/09/2016.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 30/09/2016
Reeditado em 01/10/2016
Código do texto: T5777174
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