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http://www.recantodasletras.com.br/poesias/5777174
COMO OS REFUGIADOS
De rolinhas um casal,
noites sim e noites não,
dorme lá no meu quintal,
faz pernoite num cordão.
Para ser eu verdadeiro,
agasalha-se num fio,
sem querer o abacateiro,
o casal com muito brio.
E, num combogó do muro,
o par d’aves fez um ninho;
talvez prepare o futuro,
para às crias dar carinho.
Outrora uma só rolinha,
à quina dum compensado,
lá me aportava sozinha,
como um ser abandonado.
Aquela avezinha eu via,
solitária, sempre calma,
e aquilo me comovia,
e me punha festa n’alma.
Ora, aquele passarinho,
era hóspede bem-vindo,
além de um novo vizinho
– bom era tê-lo sorrindo.
Inconstante, todavia,
a solitária não vinha,
mas eu ia, todo dia,
ver o leito da rolinha.
Ah, os pássaros urbanos,
sem um teto, sem guarida!
À noite lhes faltam panos
e ao sol lhes falta a comida.
Hoje tento alimentá-los,
dando-lhes painço, alpiste,
mas esses todos regalos
ainda me deixam triste.
Quisera livre, soltinho,
um passaredo sem grade;
gaiolas negam carinho
e às aves só liberdade!
Nossas aves citadinas
são míseros deportados;
sentem falta das campinas,
cá, nos grandes povoados.
Pobres entes emigrantes,
tangidos lá do seu meio,
famintos, seres errantes,
uns refugiados -- creio.
Fort., 30/09/2016.
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COMO OS REFUGIADOS
De rolinhas um casal,
noites sim e noites não,
dorme lá no meu quintal,
faz pernoite num cordão.
Para ser eu verdadeiro,
agasalha-se num fio,
sem querer o abacateiro,
o casal com muito brio.
E, num combogó do muro,
o par d’aves fez um ninho;
talvez prepare o futuro,
para às crias dar carinho.
Outrora uma só rolinha,
à quina dum compensado,
lá me aportava sozinha,
como um ser abandonado.
Aquela avezinha eu via,
solitária, sempre calma,
e aquilo me comovia,
e me punha festa n’alma.
Ora, aquele passarinho,
era hóspede bem-vindo,
além de um novo vizinho
– bom era tê-lo sorrindo.
Inconstante, todavia,
a solitária não vinha,
mas eu ia, todo dia,
ver o leito da rolinha.
Ah, os pássaros urbanos,
sem um teto, sem guarida!
À noite lhes faltam panos
e ao sol lhes falta a comida.
Hoje tento alimentá-los,
dando-lhes painço, alpiste,
mas esses todos regalos
ainda me deixam triste.
Quisera livre, soltinho,
um passaredo sem grade;
gaiolas negam carinho
e às aves só liberdade!
Nossas aves citadinas
são míseros deportados;
sentem falta das campinas,
cá, nos grandes povoados.
Pobres entes emigrantes,
tangidos lá do seu meio,
famintos, seres errantes,
uns refugiados -- creio.
Fort., 30/09/2016.