O canto dos pássaros

Às cinco da manhã

O canto feroz dos pássaros

Assalta meu sono

Com a violenta doçura

De quem convida para o voo.

Não fosse eu humana

O que significa nesse e outros

instantes ser humana?

O rastejo da razão?

O eco surdo da fala?

Vestir o vestido?

A máscara de pássaro?

Contar o tempo?

O excêntrico centro?

Não fosse eu humana

E seria pássaro acordando

Na primavera sem portas

No céu que transmuta a noite

Voando ao infinito que não se sabe.