Pão Mofado
Subitamente alguém bate à porta...
Abro-a vagarosamente
Eis que em minha frente: um pedinte
Estende-me a mão com o olhar!
Não tinha feito as compras ainda,
Não me restara nem uma côdea de pão
Do dia anterior
Aquele homem inspirou-me piedade
Nada, nada tinha para saciá-lo...
Em um gesto incontido
Ofertei-lhe um papel com um poema
Que eu acabara de rabiscar
- Os poetas pensam que todos são igualmente tolos –
Ele rosnou algumas palavras inaudíveis
Retrocedeu alguns passos
Rasgou em pedaços bem miúdos os meus versos
E desapareceu entediado na esquina próxima
Levou consigo um grande queixume
Ao chão, espalhados, meu coração em pedaços
Quais nacos de pão mofado...