Pão Mofado

Subitamente alguém bate à porta...

Abro-a vagarosamente

Eis que em minha frente: um pedinte

Estende-me a mão com o olhar!

Não tinha feito as compras ainda,

Não me restara nem uma côdea de pão

Do dia anterior

Aquele homem inspirou-me piedade

Nada, nada tinha para saciá-lo...

Em um gesto incontido

Ofertei-lhe um papel com um poema

Que eu acabara de rabiscar

- Os poetas pensam que todos são igualmente tolos –

Ele rosnou algumas palavras inaudíveis

Retrocedeu alguns passos

Rasgou em pedaços bem miúdos os meus versos

E desapareceu entediado na esquina próxima

Levou consigo um grande queixume

Ao chão, espalhados, meu coração em pedaços

Quais nacos de pão mofado...

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 20/09/2016
Reeditado em 20/09/2016
Código do texto: T5767166
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