vento no canavial
Os poetas que conheço sofrem de insônia
Passam a noite digerindo palavras versos engordurados
Versos magros de ver as costelas
Os ossos da coluna saltam
O sangue trafega
Tão vermelho como o fogo no canavial
La se foi João Cabral
Sua aspirina
Seu ritmo ditoso
Os poetas que vejo
Os vejo nas madrugadas
Sem dar um piu
Num ritmo silencioso
Um peão que corta seus metros de cana
E que toma cana
Embriagado vai com os ébrios
Ferrugem no facão
Cigarro de palha
Bagaço que as moscas mordem
Desordem
Ressaca
O calor ataca
O gume da faca
A camisa
Embebe o suor
O caniço balança
Suas folhas secas
Canção de ventos
Correndo as mesas
Correndo o verde
O baixio as labaredas
Vento que no canavial passa preguiçoso