CARROSSEL DE PIEDADE

Gira, gira meu carrossel de autopiedade.

Gira, gira o estático eu cavalinho de plástico.

Por tempo demais estive desfeito

Sendo perfeito para agradar o teu coração

E esta roupa apertada e desconfortável

Ajustou-se muito bem, feito segunda pele.

É estranho não se reconhecer, olhar o reflexo das lágrimas

E ver um produto montado por migalhas de aceitação.

O amor não deve nunca impor condições

Não deve aceitar metades, só por inteiro, com todos os defeitos.

Hoje, estou acostumado demais à imperfeita ilusão

Bonsai adaptado aos cortes vis das tuas manias.

Minha gênese de baobá se diluiu em mágoa

Sou um vago nada disfarçado de completo.

Assumi a forma, a fôrma que precisavas para tua alma árida

Não há forja ou fogo que desfaça esta marca de conformação.

Que sabor tem o vento sob as asas de um pássaro?

Um pássaro nascido em gaiola jamais poderá me responder.

Os cavalos livres no campo selvagem choram ao vento

Seus lamentos por aqueles que nasceram com celas embutidas.

Gira, gira meu carrossel de autopiedade.

Gira, gira o estático eu cavalinho de plástico.