BONECA DE PANO
Aquela boneca de pano
largada num canto sozinha,
esquecida de segredos e brincadeiras
permanece esperando tristinha
a atenção que teve em outros tempos.
Entre quintais, salas e soleiras
o tempo passou rapidamente. Pranto.
A criança que agora cresceu tanto
abandonou a bonequinha de cabelo preto,
e sozinha no canto escuro do quarto,
no meio de tantos outros brinquedos ali largados
como simples e impessoal objeto.
Não se lembra mais a menina
dos abraços gostosos que dava
apertando a boneca querida
no peitinho que chorava.
Quantas estórias estariam na mente da bonequinha
mas a cabeça está cheia de panos retalhados,
e agora ela fica estragando sozinha
naquele canto empoeirado.
Sentimentos são bonecas de pano, às vezes.
Também ficam num canto esquecido.
Como são frágeis sentimentos outrora tão lindos.
E agora? O que são finalmente?
Apenas bonecas de pano
chorados por tempos infindos.