BONECA DE PANO

Aquela boneca de pano

largada num canto sozinha,

esquecida de segredos e brincadeiras

permanece esperando tristinha

a atenção que teve em outros tempos.

Entre quintais, salas e soleiras

o tempo passou rapidamente. Pranto.

A criança que agora cresceu tanto

abandonou a bonequinha de cabelo preto,

e sozinha no canto escuro do quarto,

no meio de tantos outros brinquedos ali largados

como simples e impessoal objeto.

Não se lembra mais a menina

dos abraços gostosos que dava

apertando a boneca querida

no peitinho que chorava.

Quantas estórias estariam na mente da bonequinha

mas a cabeça está cheia de panos retalhados,

e agora ela fica estragando sozinha

naquele canto empoeirado.

Sentimentos são bonecas de pano, às vezes.

Também ficam num canto esquecido.

Como são frágeis sentimentos outrora tão lindos.

E agora? O que são finalmente?

Apenas bonecas de pano

chorados por tempos infindos.

João Mafra
Enviado por João Mafra em 19/09/2016
Reeditado em 10/10/2018
Código do texto: T5765851
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