Foi uma conversa sobre destino
Foi uma conversa sobre destino,
Sobre morte, vida e além-vida,
Ah, minha nossa, mas que desatino,
Nós batemos nessa tecla moída.
Não chegamos a conclusões quaisquer,
Mas avançamos nossa relação,
Não a do tipo homem e mulher,
Sim a do tipo mente e coração.
Então, foi bom. Como pensar contrário?
Nunca culpe de voar um canário.
Falando do bom, vi em seu olhar
Desejos, esperanças e vontades,
Vi uma chama querendo encontrar
Sequer ao menos uma novidade.
Ah, mas achamos? Isso não importa.
Não ia mesmo fazer diferença.
Se a nossa vida é natimorta,
Em nada influencia a crença.
Dancemos então nesse doido samba
De braço perdido e perna bamba.
Se somos cães à espera do dono,
Fidelidade é a nossa sina,
Se está mesmo vazio o trono,
Disso não sabe nem a bailarina.
Ele vem! Ele vem! Alguns cães creem,
Não vem mais, não vem mais, já choram outros,
Mas, na verdade, nenhum fica sem
Temer e sonhar, pois somos cães loucos.
Enquanto o dono não vem, que choremos.
No dia em que pararmos, perdemos.
Mas neste canil algo faz sentido:
É tomar conta de outra pessoa.
Por mais que isso soe esquisito,
Morrer assim não é sumir à toa.
Zelar, proteger, cuidar e latir,
Assim espantando as ameaças.
Meu único meio para sentir
Que há verdade entre biomassas.
Se outro sentido eu encontrar,
Será sem o primeiro violar.
Infelizmente eu estou ciente
De que pode ser materialismo,
Mas materialismo fez-me crente,
Crente serei sobre cristianismo!
Biologia, querer uma fêmea,
Pode até ser que seja só isso.
Mas se for verdade, minha noêmia,
Apenas seguirei o meu instinto.
Instinto canino. Instinto. Só.
E segurei até me tornar pó.
A vida assusta e não é bela,
Não há espaço para otimismo.
Mas se sou um cão e você, cadela,
Então bestial é o ceticismo.
Se o ceticismo é bestial,
Pode muito bem estar incorreto.
Espero então ser o seu casal,
Independente da mortalidade,
Só dependente da nossa verdade.
16/9/2016