PALAVRA
PALAVRA
bebi de ti o líquido
último
das lembranças
sem contornos
que cabem
em qualquer copo
que embebedam
qualquer corpo
porque tua boca
era a minha palavra
no avesso
feito alastrante lavra
fogo escorrendo
confidências
sobre as ruas
da minha pele
eras
o instante de brasa
que nas cinzas do tempo
nada promete
e tudo queima
no reacender
silenciosamente
do desejo
despertando
apertando
despertando
apertando
goteja no lábio
a gota despida
no hálito da voz
aguando lua
na garganta
aguardando
a cambaleante
palavra que ainda é tua
Mírian Cerqueira Leite