AS FLORES DA RUA
AS FLORES DA RUA
Luzes da esquina não lembram
enquanto penduram-me de novo
no holocausto vivo
que corpo morto não tolera
dias tristes nem dias frios
o vento é uma frustração dolorida
hoje voltei pra casa sem dívidas
de sangue nem dívidas de antes
nada paga o que não apaga
dentro do meu quarto
eu que já fui casada já fui quase
amada já fui tanto quanto mais
penso ainda sou sozinha e tenho
eles todos no andar de cima
esperando o quente abraço
do sangue que está dormindo
de baixo da pele esperando quem
sabe o fim disso tudo terminar
no escuro do dia que amanhece
devo esperar a noite ser comum
como todas devo abrir os olhos
ver que filho terá atravessado
qualquer caminho onde as ondas
são brumas escondendo o pouco de sol
do outro lado não tem aviso
não posso por alguém tão próximo
distante assim adiante no fim
da ponte que está quebrada
e os pedaços já caíram todos
nos pés posso ver suas marcas
tatuadas eu senti as farpas
gritantes das palavras de ódio
por ter nascido por ter querido
ser dormitório de orgasmos
de asnos e cavalheiros
de princípios flutuantes
minhas formas sujas antecipam
a solidão dos normais
que me acusam de estar na rua
que me usam pra falar
de uma liberdade que frusta logo
de manhã no café tem uma mistura
pra não ver o sol nascer diferente
"tem uma identidade nova sobre a mesa"
trocando passos por destroços
papeis forçados na sombra de ossos
culpando o falso obrigando
mentir que é tempo p'ra ter um tempo
normal como o mal do mesmo
eu dividi um desejo ontem
quando vi depois meu lugar
havia sido destruído
onde foi parar ...onde fui acontecer?
MÚSICA DE LEITURA: LAUTMUSIK - Three Imaginary Boys