Conta-Gotas
Temos um assunto para conversar
de poeta para estrela:
Não adianta me perseguir na noite
fria que enregela meus pensamentos
já que sou predestinado a caminhar só...
levo comigo o peso do dia, o choro da urbe
sacola cheia de nãos, o bafo do dia aziago
o lamento dos homens taciturnos, a luz,
mortiça luz, dos olhos da mulher apagada
só vista na cama a vender sua nudez
ao gozo primata de mentes e corações vazios
Tiritando de frio continuo a peregrinação
levo a tiracolo as dores mundanas
das canções dos marinheiros bêbados
que tiram gosto com as lembranças de suas pátrias
o ladrar dos cães amofinados e estropiados...
os trabalhadores do cais com macacões
empapados de suor carregando suas dores lombares
Em cada esquina um vulto assoma à espreita
de um delirante qualquer sem rumo e destino
Famílias de miserandos deitadas sob marquises
estendidas sob enxergões, esperando a neblina
A um canto, um bebê rouba a cena chupando
em um peito murcho, bebericando à conta-gotas...