Conta-Gotas

Temos um assunto para conversar

de poeta para estrela:

Não adianta me perseguir na noite

fria que enregela meus pensamentos

já que sou predestinado a caminhar só...

levo comigo o peso do dia, o choro da urbe

sacola cheia de nãos, o bafo do dia aziago

o lamento dos homens taciturnos, a luz,

mortiça luz, dos olhos da mulher apagada

só vista na cama a vender sua nudez

ao gozo primata de mentes e corações vazios

Tiritando de frio continuo a peregrinação

levo a tiracolo as dores mundanas

das canções dos marinheiros bêbados

que tiram gosto com as lembranças de suas pátrias

o ladrar dos cães amofinados e estropiados...

os trabalhadores do cais com macacões

empapados de suor carregando suas dores lombares

Em cada esquina um vulto assoma à espreita

de um delirante qualquer sem rumo e destino

Famílias de miserandos deitadas sob marquises

estendidas sob enxergões, esperando a neblina

A um canto, um bebê rouba a cena chupando

em um peito murcho, bebericando à conta-gotas...

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 15/09/2016
Código do texto: T5761465
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.