Três Peças Abstratas (ma non troppo)

Sentir no peito as trepidações

dos que se amam, o tempo

volúvel do ser em seus meios,

seus ventos e eventos, seus

e-mails, o suspiro inútil

sobre o precipício mirando o nada,

momento que se agarra

a um último acordo, pacto

entre o ventre vítreo da noite

e seus astros violáceos e

a boca iníqua da terra

e seus bárbaros, o som seco

do ar que se choca violentamente

com o silencio,

ferindo-o de morte.

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O mundo é confuso demais

pra caber neste poema.

Demoraste. Cheguei

com um buquê de rosas gangrenadas

abocanhando os átomos da noite, noite despida

sob os silogismos do pó, revi águas

tumultuadas, dentro da noite transitavam

borboletas de prata, nuvens

amplamente célebres, vibráteis,

farfalhavam sobre meu corpo

com mil girassóis elétricos, e eu chorava

bêbado, entre as migalhas

de uma fantasia horrivelmente

real.

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Além do tempo, além do

ser, da terra, do céu preso

ao limite da matéria, além do olhar

que mede o extremo, da mão

que alisa o perdido, do golpe

que decepa, da noite que

engole o solitário na praça,

além do medo e da

cínica demência que ri

dos órgãos expostos, além

do grande anagrama Deus

para álgebras inferiores e

lógicas réprobas, além

de tudo eu sinto que

tudo se dissolve

no ponto em que tudo

é possível, mesmo pensar

um além de além de além de.

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 14/09/2016
Código do texto: T5760755
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