Três Peças Abstratas (ma non troppo)
Sentir no peito as trepidações
dos que se amam, o tempo
volúvel do ser em seus meios,
seus ventos e eventos, seus
e-mails, o suspiro inútil
sobre o precipício mirando o nada,
momento que se agarra
a um último acordo, pacto
entre o ventre vítreo da noite
e seus astros violáceos e
a boca iníqua da terra
e seus bárbaros, o som seco
do ar que se choca violentamente
com o silencio,
ferindo-o de morte.
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O mundo é confuso demais
pra caber neste poema.
Demoraste. Cheguei
com um buquê de rosas gangrenadas
abocanhando os átomos da noite, noite despida
sob os silogismos do pó, revi águas
tumultuadas, dentro da noite transitavam
borboletas de prata, nuvens
amplamente célebres, vibráteis,
farfalhavam sobre meu corpo
com mil girassóis elétricos, e eu chorava
bêbado, entre as migalhas
de uma fantasia horrivelmente
real.
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Além do tempo, além do
ser, da terra, do céu preso
ao limite da matéria, além do olhar
que mede o extremo, da mão
que alisa o perdido, do golpe
que decepa, da noite que
engole o solitário na praça,
além do medo e da
cínica demência que ri
dos órgãos expostos, além
do grande anagrama Deus
para álgebras inferiores e
lógicas réprobas, além
de tudo eu sinto que
tudo se dissolve
no ponto em que tudo
é possível, mesmo pensar
um além de além de além de.