Fim de noite
No reflexo do copo vazio caído no chão
Vejo bem mais que matéria de embriaguez
Vejo bem mais que os silêncios
Sufocados nos tragos e goles
Eu vejo fragmentos de profecias
Repetições do passado
E ainda me dizem com certa audácia
Que tudo vai ficar bem
Com um pouco de serenidade
Com um pouco de paciência
Com um pouco de baile de máscaras
Tudo vai ficar bem sim
Mas eu também escrevo para os desgraçados
Escrevo para os exaustos
E no fim acabo escrevendo pro mundo inteiro
Aí me apontam um dedo
E dizem que sou excêntrica
Que eu ando meio exagerada
Mas da vida não se sente nada
Se no peito reside uma espécie de carcereiro
E eu sigo com passos duros de quem se entende
Mas eu realmente mal enxergo o que esfregam na minha cara
E eu me culpo pelo silêncio
E me culpo pelo estardalhaço
Equilibrada num salto alto
Quando na verdade eu queria poder caminhar sem rumo
De pés descalços...