VELHA CRIANÇA.
Quando a gente envelhece
O passado é um deserto
O futuro vem pra perto
O presente se enobrece
Quando a ruga aparece
Outra imagem se apresenta
O espelho se aposenta
Mostrando outra aparência
E a face da adolescência
Se torna fosca e lenta.
Os dias ficam mais curtos
As noites mais demoradas
E passam a ser contadas
As horas e os minutos
Ate os bravos insultos
Se rendem para o cansaço
A vida fica um pedaço
De um tempo inteiro
E o querer derradeiro
É ter do sonho um abraço.
Inúmeros acontecimentos
Traçam um breve caminho
É como um pergaminho
Inscritos de uns momentos
Hoje em passos lentos
Tropeça só nas memorias
De desalentos e glorias
De um tosco e senil boêmio
Que a vida deu como premio
Ser contador de Histórias.
A vida rala e enfadada
Para a morte não pegá-la
Se vale de uma bengala
Para mudar de passada
Na estreita caminhada
Reluta em prosseguir
Com medo de desistir
Ela apela a vaidade
Mais a sombra da idade
Teima em lhe perseguir.
Essa vida é engraçada
Pois inverte os papéis
Depois de alguns revéis
Começa a presepada
Já com a idade avançada
Se cobre com uma capa
A fruta não dá, se rapa
Mais não de colher cheia
Os pés vivem na meia
E volta a comer papa.
Nunca fica sozinho
Segue outro intermédio
Os outros lhe dão remédio
Igualmente ao um passarinho
Velho vira "velhinho"
Volta a ser inocente
Feito um bebê carente
Da idade enfraquecida
Que envelheceu na vida
Careca feio e sem dente.
O que há de se fazer
Se assim é a jornada
A vida assim traçada
Pode dá ate prazer
Eu tô querendo dizer
Que esta vida não cansa
Se ela toca alguém dança
Então brinque a valer
Porque quem envelhecer
Voltará a ser criança.