Eu e Minha Poesia

A minha poesia

Vaga, sentada, comigo no ônibus,

Na cadeira ao lado vazia

Ou guardada, no meu bolso,

Como o bem mais valioso

Que nele existe.

A minha poesia me acompanha à noite,

Deitada no divã,

Com um psiquiatra,

Em consultas diárias,

Que me deixa mais triste,

Quando estou triste.

- a tristeza é a inimiga

mais amiga que conheço -

Minha poesia acompanha-me

Quando estremeço

Do frio que acompanha a solidão

- minha poesia conversa com ela,

cativa-a, torna-se sua amiga,

com palavras carinhosas e singelas -

Minha poesia não me larga

Até mesmo quando estou cheio dela,

E me acorda na noite escura,

Para mostar-me o quão bela

Está a branca lua,

Do mesmo jeito que estava ontem

E anteontem,

Mesmo assim ela me acorda,

Não vê a mesma lua antiga,

Mas sim como uma fênix,

Que renasce sempre

- minha poesia não dorme,

vive em eterno estado de vigília -

A minha poesia

Às vezes é pudica,

E n'outras uma vil meretriz,

Que acompanha-me quarenta

E oito horas por dia,

- com ela o tempo é dobrado,

sou dois, num só tempo,

sou diabo

e São Francisco de Assis -

Com ela eu carrego o fardo

Que me faz um poeta

Feliz e infeliz.

André Espínola
Enviado por André Espínola em 23/07/2007
Reeditado em 23/07/2007
Código do texto: T575994
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