De pai pra filho
Terra, Terra! Planetinha
Houve um tempo em que eu achava
Que tu também eras minha
E eu te olhava, fascinado
E brincava, brincava
Corria, caía, levantava, agachava
Entendia tuas nuvens, sabia teus banhados
Tuas árvores, rainhas
Do meu reino encantado.
Bons tempos de fedelho...
Hoje me dizem: - Corta o cabelo!
Olha esta barba! Mantém a linha!
Veste esta roupa, que mais te convém!
Dá ao patrão tua patinha
Ganha dinheiro, muito dinheiro
Olha o mercado financeiro!
Cuida, cuida, que te roubam!
Esconde bem o teu vintém
Não olhes para os lados
Ninguém é parceiro de ninguém
Afia bem a tua espora, vai à rinha
Vence, vence! Mata, mata!
Não dês trela a forasteiro
Faz teu pé de meia e faze-o bem
De maneira que todos invejem
A espora grossa que tens
Compra, compra, mostra, mostra
Teu poder, tua conta, teus bens
Mostra a tua envergadura
De homem macho sem frescura!
Corta o cabelo, olha esta barba, mantém a linha
Depois, ensina ao teu herdeiro
Esta mesma ladainha.
Terra, Terra! Planetinha
E, eu, que pensava seres minha...
Tanta cor, tanto ar, tanto cheiro!
Sonhei tanto uma andorinha
E me legaste um formigueiro.