O ENCAIXE DO MORTO

O morto em repouso absoluto

Procura no teto do seu caixão

Nem que seja uma aranha viva

Para conversar pelas horas de eternidade.

Não é que ele esteja arrependido de ter morrido

Apenas anseia exaurir de si as palavras contidas

Por toda a sua abúlica vida, o morto olha a tampa

Do teu ataúde e imagina que céu sem estrelas

Estende-se feito tapete do lado de fora da sepultura.

Mas que fique claro, ele não quer voltar a respirar o ar de lá,

Só é um morto muito curioso no parco espaço que lhe encerra.

E ali, ele espera que por geração espontânea apareça

Uma nobre e vagabunda vida

Para se encaixar perfeitamente

A sua solene e retirante morte.