A boemia de Dom Quixote
Quando eu enveredar
Pelo sereno da minha paz assolada
Até encontrar um caminho retilíneo
Deixa-me segui-lo sozinho.
Se eu tardar o regresso
Ao nascer da alvorada
Não te preocupes com esse homem
Que, disléxico e sem-nome,
Andou apenas a esmo pela madrugada.
E, meu amor, não duvides de mim.
Se eu rir de mim mesmo na chegada
Voltar a ti pândego e falastrão
Já exíguo o pescoço de almíscar
Mas tórrido o corpo como faísca...
Lança-te em mim.
Rende-te às gotas lancinantes de desejo
Mergulha nesse magma corrente
Que por ti efervesce e apela por tua inflexão.
Redime logo este espirito andejo
Cujo único regalo - evidentemente (!) - é teu coração.
Quando eu sentir
o vento ameno do medo velado
E me arremessar ao abisso
Dos (meus) limites, desconsolado,
Meu amor, ora por mim.
Se eu, por acaso, brincar com a morte
E tocar o pessimismo, traze-me de volta
Para além dos fantasmas com que cismo.
Segura-me firme: não me soltes!
Tu és a força de que preciso.
Se eu me fizer recalcitrante
Alheio às tuas investidas
Não desistas de mim!
Recolhe-me ao teu seio
Conforta este cavaleiro errante
Que só contigo prospera.
Com teu amor, luto qualquer guerra.