A boemia de Dom Quixote

Quando eu enveredar

Pelo sereno da minha paz assolada

Até encontrar um caminho retilíneo

Deixa-me segui-lo sozinho.

Se eu tardar o regresso

Ao nascer da alvorada

Não te preocupes com esse homem

Que, disléxico e sem-nome,

Andou apenas a esmo pela madrugada.

E, meu amor, não duvides de mim.

Se eu rir de mim mesmo na chegada

Voltar a ti pândego e falastrão

Já exíguo o pescoço de almíscar

Mas tórrido o corpo como faísca...

Lança-te em mim.

Rende-te às gotas lancinantes de desejo

Mergulha nesse magma corrente

Que por ti efervesce e apela por tua inflexão.

Redime logo este espirito andejo

Cujo único regalo - evidentemente (!) - é teu coração.

Quando eu sentir

o vento ameno do medo velado

E me arremessar ao abisso

Dos (meus) limites, desconsolado,

Meu amor, ora por mim.

Se eu, por acaso, brincar com a morte

E tocar o pessimismo, traze-me de volta

Para além dos fantasmas com que cismo.

Segura-me firme: não me soltes!

Tu és a força de que preciso.

Se eu me fizer recalcitrante

Alheio às tuas investidas

Não desistas de mim!

Recolhe-me ao teu seio

Conforta este cavaleiro errante

Que só contigo prospera.

Com teu amor, luto qualquer guerra.

Elmer Giuliano
Enviado por Elmer Giuliano em 12/09/2016
Reeditado em 12/09/2016
Código do texto: T5758968
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