Brilho sujo

Sei que os ricos diamantes nascem sujos,

sob o mais profundo da terra

ou quase aflorados em pequenos córregos.

Por isso, abutrear teu corpo

me honra os sentimentos

e me despe do imoral.

Suspeito que amar não impõe fronteiras,

nem as cinzas enegrecidas do que queimarem

do nosso amor, se tornem um limbo.

Quando as asas dos meus olhos forem tuas,

meu coração doar-se-á em servidão

e tudo o que pensar será separação

e o amor terá ido embora.

No tempo de um piscar de olhos hei de rever

a decência que nos consolidou

separados, envoltos em lembranças

como se as cinzas desse amor, aqui, cantado,

não nos sejam indecentes

mas, alívio ao garimpar outros luzentes,

diamantes ou não, mesmo que imundos,

enfiados no peito, bem fundos,

antes que lapidemos o passado

e o tornemos mais cobiçado do que

apenas, nem tão limpos brilhantes.