RESIGNAÇÃO SUICIDA
Escorro pelas frestas dos dias e definições
Pois as palavras são clausuras assassinas
Apertam meu pescoço, comprimem meu peito
Com todo respeito, preciso ir embora
Lá fora, lá onde o inominável habita
Aqui estou a vagar. Instantes fugazes
As palavras são vorazes e comem carne
O caminho da borda, equilíbrio na corda
É preciso acordar!
Na corda que balança sobre o abismo
Atravesso o mundo inteiro
Lá ao fundo: o desespero tranquilo
Resignação e conformidade
Caixão e cova
Conforto macio e putrefato
Dos não lugares e palavras mortas
“A vida é assim” – alguns me diziam
Com o olhar opaco e o peito dormente
do escravo que desistiu da fuga
Sem saber que aquele sorriso anestesiado
Era um suicídio