932 Enxurrada
Enxurrada
Na quente noite seca de verão, antigas enxurradas.
Corriam paralelas ao passeio de infância.
Era festa.
A chuva, que caísse mais e mais, não importava que nos molhasse.
A rua de paralelepípedos
irregulares dava a enxurrada aspecto de serpente escamosa.
Os pés descalços desafiava a cobra aquática.
Outra vez a enxurrada era rio para os barcos de papel.
Eles sumiam na esquina ou nos bueiros da rua.
Cena antiga de filme chamado “Lembrança”
A rua agora corre lisa sob o asfalto.
Tudo se perdeu na enxurrada do tempo.
A memória rompe o dique e a serpente escamosa inunda a saudade.
Nardo Leo Lisbôa
Barbacena, 07/01/2001
Caderno: Poesia Efervescente.