Só o porvir vale a vós

Estalos secos: folhas sobre a grama.

Não se há de recobrar as sensações,

não apenas porque já são visões:

decorre dos ouvidos alheados;

e a sola tesa o tato falho aclama.

Que vale fenecer à nostalgia,

se se voltasses todo às áureas fases

não poderias ser tudo o que trazes

retido na memória? Pois tua boca

não degusta co' argúcia, e a noite fria

a pele já não sente, e o colibri

alegre... tu não ouves o seu canto!...

Por que haveis de prantear tão triste e tanto?

O corpo já não é tudo o que fora,

só o porvir vale a vós: sim, desisti!

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 10/09/2016
Código do texto: T5757017
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