APEGO
APEGO
se eu tivesse
um jeito novo
de dar jeito
nas coisas velhas
tu não estarias agora
empacotado em encardida
memória
em caixas de papelão
nos sótãos da fantasia
que rasgam telhados
distantes do chão
fantasias que são
fios sutilissimos
que se entrelaçam
feito aranhas melancólicas
em teias de algodão
e estás lá
como bilhete amarelado
em meio aos meus guardados
empoeirando falas
deslembradas
e esse deslumbramento breve
longe e perto
sela
tua silenciosa língua
em meus lábios
roçando saudade
prolongando lembranças
pelos confins da eternidade
Mírian Cerqueira Leite